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2                                                            Jornal Regional                                                 23 de outubro de 2023

                               O caso das orquídeas

    Maria Teoro Ângelo         placa continha as                          anotava nos fichá-      Então, as crianças desce-  sido descobertos, a mãe
                               informações so-                            rios e a muda era    ram as escadas e deparan-     agarrou os anjinhos, despe-
   A mãe leva os dois filhos   bre a planta e                             vendida.             do com a imensidade de        diu-se e nunca mais visitou
pequenos para visitar o ve-    mesmo antes de                                                  vasinhos, foram retirando     o tio, que se viu enlouque-
lho tio. O homem vivia re-     florir, ele sabia as                           Presenteava os   deles cada placa de madei-    cido diante da mais estra-
cluso num casarão tipo so-     características da                         sobrinhos com        ra e juntando nas mãozi-      nha mutação genética já
brado. Na parte de cima era    flor que viria. Pe-                        vasos já floridos.   nhas. Retiraram o quanto      vista sobre a face da terra.
a área social da casa. Des-    las placas ele ven-                        O que era para o     puderam e seus braços pu-
cendo uma escadaria, que       dia as mudas para outros co-               leigo era uma ma-    deram suportar e esse quan-      Maria Teoro Ângelo é
aproveitava a irregularidade   lecionadores. Vivia disso,    ravilha, para ele, às vezes, era  to era muito, muito mesmo.     professora aposentada e
do terreno, ia ter-se lá em-   pois a muda vendida sem-      planta sem valor, porque as
baixo num orquidário estu-     pre correspondia à flor es-   orquídeas precisam de cer-           Quando a mãe se deu              cronista. Crônica
pendo.                         perada. Essa credibilidade    tos requisitos para serem         conta, desceu as escadas. O       publicada no Jornal
                               garantia o seu sustento.      perfeitas. Mas isso só ele        tio continuava lá fora da
   Colecionador de espéci-                                   sabia apreciar.                   casa conversando com o                 Regional em
es raras, pesquisador, explo-     Pessoas estranhas não ti-     Nesse dia, como eu esta-       grupo.                           30 de janeiro de 2001
rador, chegava a se embre-     nham acesso ao orquidário.    va contando, chegou um
nhar nas matas em busca de     Só ele lá entrava porque a    grupo trazendo espécies ra-          Vendo a tragédia, a mãe
novidades. Aquela espécie      organização do laboratório    ras para negociar. O tio fi-      pegou os feixes de estacas
de porão era o seu labora-     lhe garantia o sucesso do     cou entretido nisso por mui-      e entre desesperada e lou-
tório. Dispostos em pratelei-  negócio criado a partir de    to tempo lá na parte de           ca foi colocando a esmo
ras imensas muitos vasos,      uma imensa paixão pela flor.  cima. A mãe também se en-         uma em cada vaso. Depois
todos catalogados, numera-     As pessoas chegavam, ele      volveu na conversa e eram         de algum tempo, termina-
dos, classificados através de  descia e pouco depois vinha   tantos os detalhes, as novi-      do o “serviço”, subiram os
placas de madeira que ele      com o pedido. Retirava a      dades e a beleza das flores,      três. O tio ainda estava lá
espetava em cada um. Cada      placa de madeira do vaso,     que o tempo foi passando.         fora.

                                                                                                  Certa de que não tinham
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